Conheça a trajetória de duas instituições do campo, que foram do OFF ao ON e, hoje, utilizam o acesso à internet para melhorar a aprendizagem dos estudantes
Há poucos meses, o cotidiano da comunidade escolar de duas instituições municipais rurais da cidade de Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, foi totalmente transformado pela conectividade, com a chegada da internet de fibra óptica.
Até março de 2022, as escolas Kaoru Hiramatsu e Benedito de Paula só tinham acesso à internet para trâmites burocráticos, envio e recebimento de e-mails e uma ou outra pesquisa realizada pelos professores – e com certa dificuldade. Os estudantes, cerca de 60 em cada endereço, continuavam em um mundo off-line, sem a possibilidade de utilizar uma ferramenta educacional básica nos dias de hoje, capaz de abrir caminhos e apresentar inúmeras oportunidades.
Esse retrato, no entanto, está mudando por lá, e a MegaEdu acompanha de perto essa trajetória, do OFF para o ON. Para Pedro Passos, diretor de tecnologia educacional de Mogi das Cruzes, essa mudança é necessária para diversos aspectos da educação. “Para que a gestão possa evoluir e entregar resultados, a conectividade é uma base. Assim como água e eletricidade, a internet é um recurso fundamental para a operação e para a evolução do funcionamento administrativo e pedagógico da escola.”
Além de materiais didáticos e atividades manuais, os alunos mogianos contam agora com chromebooks conectados a aplicativos pedagógicos que auxiliam no processo de aprendizagem. “Não tem coisa melhor do que exemplificar algo por meio de imagens, vídeos e afins. Antes da internet, a gente trabalhava bastante com o livro didático, que é fundamental, mas, hoje, o conteúdo dos livros é enriquecido pela internet. É um excelente complemento, e é muito legal ver a reação das crianças ao terem contato com florestas e vulcões, por exemplo, pela primeira vez. Eles falam encantados: ‘Professor, a Amazônia é assim?’. Antes, só ouviam falar, não tinham noção do que era, da grandiosidade”, diz Sidnei Menezes de Jesus, professor polivalente da Escola Municipal Rural Kaoru Hiramatsu.
Sidnei conta, ainda, que há uma questão social relevante no contexto das crianças e dos jovens das instituições do campo. Muitos estudantes, a maioria deles, não têm internet em casa, fato que os distanciou da escola durante o ensino remoto ocasionado pela pandemia de Covid-19 e a suspensão das aulas presenciais entre 2020 e meados de 2021. Porém, a chegada da internet por ali vai ajudar a mudar esse cenário. “Foi difícil a nossa comunicação naquele período, mas estamos correndo atrás, também com a ajuda da internet, do que foi perdido. Os alunos adoram a internet, ela aguça o raciocínio.”
Teresa Cristina de Camargo estudou pedagogia justamente para lecionar em escolas rurais e, atualmente, dá aula para o 5º ano na Escola Municipal Rural Benedito de Paula. Assim como Sidnei, a professora tem contado bastante com o acesso à internet na sala de aula “para mostrar fontes interessantes de pesquisa e realizar rodas de conversa a partir dos temas pesquisados”. “Não há biblioteca por aqui, então esse é um meio de deixar os alunos antenados.”
Ela relata que tem sentido os estudantes mais participativos com a chegada da internet às aulas. “Com certeza, eles estão protagonizando a aula, mesmo os mais tímidos, que, por meio de buscas de imagens, ficam seguros para falarem o que estão pensando sobre aquele assunto e acabam participando mais.”
Para Laura Comas Sotelo, também professora da Benedito de Paula, a chegada da internet foi uma conquista muito importante. “Se a gente não trabalhar com essa tecnologia, deixamos os nossos alunos de fora de uma realidade digital que já está posta há muito tempo.”
Não só os estudantes ganharam com o salto de conectividade nessas duas escolas de Mogi. A internet rápida e de qualidade também beneficiou o trabalho do corpo docente, que, por vezes, sofre com a falta de conexão em casa também. “Antes, a internet era ruim e falhava, hoje, está estável e nunca mais caiu”, confidencia Laura. “As aulas eram mais limitadas, eu precisava trazer alguns conteúdos baixados do meu notebook, mas chegava na escola e a conexão era bem lenta, o que dificultava a apresentação.”
A professora Leila Felício dos Reis Ribeiro divide o trabalho entre as duas escolas. Pela manhã, leciona na Kaoru Hiramatsu, à tarde, vai para a Benedito de Paula. Ela se classifica como uma profissional flutuante porque, desde 1993, já passou por inúmeras instituições de ensino, de diversos municípios. E garante: é raro uma escola da zona rural ter computadores à disposição dos professores e, principalmente, conexão com a internet. “Fiquei impressionada quando cheguei aqui. Muitas escolas metropolitanas não têm esses instrumentos.”
A própria Leila só tem internet em casa porque paga por um serviço especial, para não depender da internet móvel, que não chega ao sítio onde ela vive, ali na região, fato que ocorre também com grande parte dos estudantes. No caso deles, entretanto, a dificuldade financeira é um obstáculo maior. “A internet é cara e as famílias não têm condições de arcar com esse gasto. Além disso, algumas operadoras nem chegam à zona rural.”
É por isso que os alunos das duas instituições têm se empolgado cada dia mais com as aulas. Leila fala que os estudantes estão motivados com a era digital. “Quando falo em chromebook, eles se animam, prestam mais atenção, gostam bastante. No início do ano, eles ainda não liam e agora estão lendo, estão mais atentos, ficaram infinitamente mais interessados”. Os professores, obviamente, aproveitam esse ânimo estudantil para progredir com o ensino e, consequentemente, aumentar a qualidade da aprendizagem.
Leila e os colegas da Kaoru Hiramatsu e da Benedito de Paula utilizam alguns aplicativos de apoio às aulas, como o Simulados, que usa recursos de gamificação e atividades colaborativas multiplayer on-line com o objetivo de facilitar a aprendizagem, proporcionando autonomia ao aluno e respeitando o ritmo de cada um, e o PAI (Pacote de Atividades de Informática), desenvolvido pela equipe de orientadores de informática da rede municipal de ensino de Mogi das Cruzes, que oferece um material técnico-pedagógico para potencializar o aprendizado.
Na época destas entrevistas, o diretor do Núcleo 4, que contempla a Kaoru e a Benedito era José Elias Alves de Barros, que disse que as únicas instituições de ensino rurais locais conectadas são as duas. “A comunidade está grata e feliz com isso, também pudera, o mundo todo conectado e nós aqui isolados.” Graças ao esforço dele, que foi atrás de saber os direitos das escolas e contratou os serviços em março, a conectividade chegou por ali. “Estamos caminhando a passos largos para a melhoria da educação das nossas escolas.” A vice-diretora, Claudia Xavier de Campos, concorda. “As crianças da zona rural estão sendo colocadas no mundo digital e isso nos motiva.”
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